Resenha: Ratos por Gordon Reece



3/5 estrelas.
Shelley e a mãe foram maltratadas a vida inteira. Elas têm consciência disso, mas não sabem reagir — são como ratos, estão sempre entocadas e coagidas. Shelley, vítima de um longo período de bullying que culminou em um violento atentado, não frequenta a escola. Esteve perto da morte, e as cicatrizes em seu rosto a lembram disso. Ainda se refazendo do ataque e se recuperando do humilhante divórcio dos pais, ela e a mãe vivem refugiadas em um chalé afastado da cidade. Confiantes de que o pesadelo acabou elas enfim se sentem confortáveis, entre livros, instrumentos musicais e canecas de chocolate quente junto à lareira. Mas, na noite em que Shelley completa dezesseis anos, um estranho invade a tranquilidade das duas e um sentimento é despertado na menina. Os acontecimentos que se seguem instauram o caos em tudo o que pensam e sentem em relação a elas mesmas e ao mundo que sempre as castigou. Até mesmo os ratos têm um limite.


Sendo este o primeiro romance do autor britânico Gordon Reece, “Ratos” conta a história de Shelley e sua mãe, Elizabeth. Ambas, como o título sugere, são ratos. Dóceis, submissas, que se entocam em um chalé afastado de tudo e de todos quando a vida fica difícil demais. Antes da mudança, Shelley (com seus 14, 15 anos) passa por uma experiência traumática de bullying pelas mãos das suas melhores amigas de infância. Shelley suportou a tortura mental e física em silêncio, registrando tudo em seu diário. As agressões logo fogem do controle, culminando em um ataque que deixaria cicatrizes feias por dentro e por fora. Simultaneamente, o pai de Shelley decide trocar sua família por um romance com sua secretária cheia de vida, iniciando uma batalha judiciária que tiraria tudo de Elizabeth - tudo, menos a filha.

Antes do casamento, Elizabeth era o tipo de pessoa que todos diziam ter um futuro brilhante pela frente. Uma advogada de grande potencial, com um ótimo emprego, que abdicou de sua carreira a pedido do marido; que não queria a filha recém-nascida largada com babás, e que também não queria continuar sentindo-se inferior diante do talento de sua mulher. Depois do divórcio, a falta de experiência profissional obrigou Elizabeth a aceitar um emprego medíocre, com um salário pior ainda. Os sócios da firma de advocacia, percebendo a competência e a passividade de Elizabeth, sobrecarregavam-na a todo o momento com trabalho extra.

“Minha mãe e eu vivíamos em um chalé a cerca de meia hora da cidade. Não foi fácil encontrar uma casa que satisfizesse a todas as nossas exigências: no campo, sem vizinhos, com três quartos, jardins na frente e nos fundos. Um imóvel que fosse antigo (precisava ter “personalidade”), mas ao mesmo tempo confortável – um sistema de aquecimento moderno era essencial, pois detestávamos sentir frio. Precisava ser silencioso. Precisava oferecer privacidade. Afinal, éramos ratos. Não procurávamos um lar. Procurávamos um lugar onde pudéssemos nos esconder.”

O Chalé Madressilva se tornou o santuário das duas. Elas se sentiam seguras, cercadas pela rotina, pela quietude e pelo belo jardim. Os dias eram repletos de música, livros, desenhos e pintura. Shelley passou a estudar em casa com tutores, sendo um deles outro rato: Roger, professor de História, desistiu de lecionar em escolas após ser atormentado e atacado pelos seus alunos.

Por um tempo as coisas caminharam na mais completa paz. Na véspera de seu aniversário de 16 anos, Shelley foi dormir cheia de novos planos e sonhos... e acordou algumas horas depois, com os rangidos feitos pelo quarto degrau da escada. Um ladrão havia invadido a casa. Percebendo que o assaltante estava instável e fedendo a álcool, Shelley decide fazer algo impensável: reagir. E é essa atitude que vai alterar de forma permanente a vida dos ratos e do gato, levando Shelley a suspeitar que talvez, só talvez, ela não seja um rato afinal de contas.

“Quando um gato entra na toca dos ratos, ele não vai embora deixando-os ilesos. Eu sabia como aquela história iria terminar. Ele mataria nós duas.”


Achei a história instigante e, francamente, um pouquinho perturbadora. Narrada em primeira pessoa, podemos acompanhar de perto as mudanças comportamentais de Shelley e observar o que acontece quando uma pessoa é obrigada a atingir os extremos - tanto da docilidade como da violência.


9 comentários:

  1. Nossa eu achei este livro bem pertubador acho que eu não leria não.
    bjs

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  2. Que temática forte....Parece interessante. Talvez se encontrar um capítulo pra ler antes de comprar, só pra ter certeza que aguento o conteúdo.

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  3. Achei bem legal, parece ser meio diferente do que estou acostumada a ler mais gostei bastante!

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  4. Parece perturbador mesmo, não sei se essa temática forte me agradaria no momento, estou evitando-as.

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  5. Gosto mais de livros, com personagens narradores, assim a história fica mais legal pra mim. O tema do livro é bem intrigante, acho que leria sim o livro.

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  6. Só a sinopse te deixa super curiosa e depois dessa resenha já estou adicionando a lista de desejados!
    Uma tema forte e pertubador #adoro

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  7. Comprei esse livro em uma promoção, gostei da sinopse e me interessei.
    O tema é forte e o livro parece interessante, fico curiosa no que vai dar, com certeza será uma das minhas próximas leituras.

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  8. Confesso que não conhecia o livro ou sua história, mas por essa resenha ter me instigado, procurarei saber mais.
    Parece ser um tema forte realmente. Mas não custa tentar a leitura *--*
    Adorei a resenha, parabéns! (:

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  9. Não conhecia o livro.. e acho que nunca li nada desse tipo.. nunca li uma historia de ratos..
    um pouco forte.. demais para o momento.,

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